A Universidade Federal do Espírito Santo (Brasil), em parceria com a Universidade Ca’ Foscari de Veneza, realiza entre os dias 06 e 08 de julho de 2015, o I Colóquio Internacional de Mobilidade Humana e Circularidade de Ideias. A organização do Colóquio reúne o Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Espírito Santo, o Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e o Departamento de Estudos Linguísticos e Culturais Comparados da Universidade Ca´ Foscari de Veneza. O Colóquio objetiva desenvolver reflexões sobre os processos de mobilidade humana e circularidade de ideias entre países da América Latina – especialmente Brasil – e da Europa, envolvendo grupos de pesquisa nacionais e internacionais.
A realização deste Colóquio é, de certa maneira, produto do percurso que vem sendo construído entre estas Universidades com o propósito de desenvolvimento de pesquisas que somem esforços para dar maior amplitude e profundidade aos estudos da mobilidade humana e da circularidade de ideias entre América Latina e Europa. Neste sentido, a questão central da discussão que funda este projeto de cooperação relaciona-se diretamente à dinâmica fortemente dialética que envolve a mobilidade humana e a circulação de ideias. Se por um lado o deslocamento de pessoas constrói imagens sobre os lugares de onde se chega e daqueles de onde se sai, por outro, as ideias-imagens são produtoras de mobilidade, na medida em que alimentam imaginários e representações que funcionam como propulsores do agir humano.
Observa-se que os contatos entre a Europa e a América Latina nos remetem aos últimos anos do século XV, quando os navios de Castela e Aragão chegaram à região central do continente, na ilha batizada como Hispaniola. Dava-se, então, início a um processo inexorável de iberização do subcontinente americano, seguido, a partir do século XIX, por uma dinâmica de europeização. As relações entre os dois lados do Atlântico principiaram um duplo movimento entre os dois continentes, tanto de deslocamento de pessoas (da colonização-ocupação à imigração) quanto de circulação de ideias. Poder-se-ia dizer que, desde os primeiros passos desse relacionamento, ambos os continentes viveram o fenômeno da circularidade e da interpenetração na construção de suas realidades contemporâneas.
Neste sentido, a discussão de três fenômenos que atravessam os últimos 130 anos de deslocamentos entre Europa e América Latina dá a dimensão da importância do objeto de investigação deste projeto. Primeiro, a grande imigração europeia de massa de finais do século XIX. Em segundo, o crescimento da emigração latino-americana nos últimos vinte anos e o aumento da emigração europeia (também em direção à América Latina, em particular, aquela dos países do mediterrâneo) na primeira década do século XXI. Por fim, a conjuntura migratória internacional, que envolve processos de integração e reelaboração identitária, tanto pensando nas comunidades de latino-americanos no exterior – as quais repensam as suas identidades nacionais e continentais – quanto nos processos de interação com as comunidades locais, que forjam processos múltiplos de identificação.
É relevante destacar, ainda, que, os deslocamentos humanos promovem movimentos de ideias e construções de imaginário – que muitas vezes ultrapassam o círculo dos continentes em destaque. Os processos imigratórios trouxeram consigo um fluxo de viajantes, políticos, intelectuais que produziram narrativas não somente dos espaços de imigração, mas, também, forneceram olhares diferenciados sobre os Estados nos quais os imigrantes se instalaram. Produziram-se literaturas sobre as experiências de ambos os lados do Atlântico, colaborando, neste sentido, na produção de quadros imagéticos que passaram, pouco a pouco, a ser socialmente compartilhados e a constituir emblemáticas representações do outro.
No que concerne à imigração histórica, ou seja, àquela de finais do século XIX, muito já se produziu tanto no que se refere à realidade brasileira, às transformações aportadas pelos imigrantes ao cenário político-econômico, e também sociocultural, quanto àquela considerada na individualidade de cada Estado latino-americano receptor de imigrantes (maiormente Argentina, Uruguai, Chile, Peru e México). A relevância da presente discussão é pensar essas dinâmicas em uma perspectiva continental e percorrer os processos de mudança que foram atravessando contemporaneamente os dois continentes e como uma relação dialética de interinfluência se construiu.
Para discutir essas questões o I Colóquio de Mobilidade Humana e Circularidade de Ideias reuniára pesquisadores de diferentes áreas distribuídos em três atividades: no horário matutino, participação nas discussões de comunicações coordenadas; no vespertino, em simpósios temáticos; e no noturno, conferências. A equipe de coordenação do Colóquio é composta dos professores doutores Maria Cristina Dadalto, (Presidente-Pesquisador UFES). Syrléa Marques (Pesquisador UERJ) e Luis Fernando Beneduzi (Pesquisador UCF). O evento também conta com a participação dos doutores Julio Cesar Bentivoglio (UFES), Lená Medeiros (UERJ), Susanna Regazzoni (UCF), Enric Bou Maqueda (UCF) e Jorge Malheiros (Universidade de Lisboa) como membros da Comissão Científica.